Endocrinologia é a especialidade médica que trata das doenças endócrinas e da sua prevenção. As doenças endócrinas surgem, quando há algum desequilíbrio nas glândulas que produzem hormônios, a exemplo da tireoide, hipófise, ovários, testículos e suprarrenal, mas também quando há um desequilíbrio mais amplo, que envolvem várias partes do organismo como na obesidade, diabetes, dislipidemias, distúrbios do crescimento, doenças do metabolismo ósseo dentre outras doenças.
Mas o endocrinologista não apenas trata as doenças. Ele tem um papel muito importante em orientar a sua prevenção, com informação adequada, sugestão de mudanças de estilo de vida, tratando o paciente como um todo e não apenas a doença que ele apresenta.
PRINCIPAIS DOENÇAS TRATADAS PELO ENDOCRINOLOGISTA

O diabetes mellitus é uma doença que se apresenta com hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue), seja porque o pâncreas não está produzindo quantidade adequada de insulina ou porque a insulina produzida não está funcionando adequadamente.
A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, cuja principal função é colocar a glicose para dentro da célula. Quando isso não acontece a glicemia aumenta e surge o pré-diabetes e o diabetes.
Existem alguns tipos de diabetes:
Tipo 1: decorre da lesão das células do pâncreas (células Beta) que produzem insulina por anticorpos na maioria das vezes e subitamente a secreção de insulina cai produzindo os sintomas clássicos do diabetes como poliúria (urinar muito), polidipsia (muita sede), polifagia (muita fome) e perda de peso. O tratamento sempre é o uso de insulina acompanhado das mudanças de estilo de vida. O início acontece geralmente na infância e adolescência, podendo acontecer em qualquer idade.
Tipo 2: acontece mais em adultos, muito associado à obesidade, já que decorre inicialmente de uma resistência à ação da insulina, que não consegue exercer plenamente a sua função. Com isso surge a hiperglicemia, porém de forma mais lenta, e pode não aparecer nenhum sintoma, até que surja alguma complicação da doença como retinopatia, doença nos rins, pé diabético ou doenças cardiovasculares. Por essa razão é tão importante realizar exames periodicamente, assim a doença pode ser detectada e tratada precocemente.
Diabetes Mellitus Gestacional: A gestação é um período no qual a insulina trabalha com mais dificuldade e pode surgir um diabetes específico da gestação, que pode desaparecer depois do parto, mas aumenta muito o risco da mulher vir a apresentar diabetes posteriormente. Se não tratado adequadamente a criança pode nascer macrossômica (com mais de 4 Kg) e ter maior risco de apresentar obesidade e diabetes na vida adulta.
Outros tipos de diabetes: associado ao uso de medicações como corticosteróides, a outras doenças endócrinas dentre outros.
O diagnóstico é dado através do exame da glicemia e da Hemoglobina glicada (avalia a glicemia nos últimos 90 dias).
Dicas de prevenção:
- Realizar exames periodicamente, especialmente quem tem história familiar de diabetes, obesidade, se já teve filho com mais de 4 Kg ou diabetes gestacional prévio;
- Manter uma dieta equilibrada e saudável para não engordar;
- Fazer atividade física regularmente.

A Obesidade é uma doença que atinge hoje grande parte da população mundial, associada às mudanças que ocorreram nos últimos anos na qualidade da alimentação, com o advento do consumo exagerado de alimentos processados e ultra processados, da cultura do fast food e a inatividade física, especialmente das crianças, que passam cada vez mais tempo ligadas a telas de celulares e computadores.
No Brasil, mais da metade da população tem excesso de peso e em torno de 20% tem obesidade, que são dados alarmantes, já que a obesidade está associada a doenças como diabetes e hipertensão, o que aumenta muito o risco de doenças cardiovasculares (infarto, AVC), osteoartrose, o que limita os movimentos com o passar do tempo e até a alguns tipos de cânceres como mama e endométrio. Muitas vezes está ligada a sofrimento psíquico, que pode levar a levar a depressão e ansiedade.
Boa parte dos pacientes com obesidade apresentam uma Síndrome clínica denominada Síndrome Metabólica, que é definida pela associação de três dos cinco itens: Circunferência abdominal aumentada, triglicérides elevado, glicemia elevada, HDL baixo e pressão elevada. A presença dessa síndrome aumenta em duas vezes o risco de a pessoa vir a ter doença cardiovascular.
O tratamento precoce multiprofissional com reeducação alimentar, atividade física orientada por profissional de educação física, terapia especializada com psicólogos e quando necessário, medicações específicas para o tratamento da obesidade e das doenças a ela associadas.
Mais importante do que o tratamento é a prevenção da obesidade. Algumas dicas de quando se preocupar e como prevenir:
- Pessoas com história familiar de obesidade tem maior risco de desenvolver a doença. O cuidado deve ser redobrado;
- Histórico de doença cardiovascular precoce e diabetes também são sinais de alerta para a importância de se evitar o ganho de peso;
- Cuidar desde cedo da alimentação das crianças, evitando a exposição precoce a alimentos industrializados e carboidratos simples;
- Estimular atividades ao ar livre para crianças e adultos e controlar o tempo de exposição a tela;
- Fazer avaliação clínica periódica, buscando o endocrinologista quando necessário.

Osteoporose é uma doença que acomete mais as mulheres após a menopausa e homens idosos. Se caracteriza por uma diminuição progressiva da massa óssea, que leva ao enfraquecimento dos ossos, aumentando o risco de fraturas, especialmente no fêmur e na coluna.
Muitas pessoas tem osteoporose e só descobrem quando sofrem uma fratura, o que poderia ser evitado. O seu diagnóstico é feito através do exame da Densitometria Óssea, que deve ser solicitada para mulheres acima de 65 anos, homens acima de 70 anos e mais precocemente para pessoas que tenham fatores de risco para a doença ou risco aumentado de fratura.
São fatores de risco para osteoporose: idade avançada, menopausa precoce, deficiência de andrógenos, uso de medicações como glicocorticóides, doenças como artrite reumatóide, diabetes mellitus, hipertireoidismo dentre outras.
As mulheres com mais de 50 anos, especialmente após a menopausa devem ser avaliadas pelo seu médico, para determinar o risco de fratura, o que vai indicar se é necessário ou não o início da investigação da doença antes dos 65 anos.
Dicas para manter um osso saudável e prevenir a osteoporose:
- Alimentação equilibrada, rica em cálcio, vitamina D e proteínas (Leite e derivados são uma boa opção);
- Atividade física diária para fortalecer os ossos e os músculos, que ajudam a evitar quedas;
0 Manter a vitamina D em níveis adequados: dieta, exposição solar e quando necessária, reposição orientada pelo seu médico;
- Não fumar!!!
- Evitar o uso exagerado de bebidas alcoólicas.

A diminuição da produção dos hormônios tireoidianos pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais freqüente em mulheres. Os sintomas mais comuns são: cansaço, sonolência excessiva, dificuldade de concentração, diminuição da memória, queda de cabelo, unhas fracas, pele seca e ganho de peso. Pode ser responsável pelo surgimento de anemia, aumento de colesterol, depressão e outras patologias.
A causa mais comum de Hipotireoidismo adquirido é a Tireoidite de Hashimoto (inflamação auto-imune da glândula tireóide).
O diagnóstico de Hipotireoidismo é feito pela dosagem laboratorial dos hormônios da tireóide. O Hipotireoidismo também pode ser congênito e nesses casos é diagnosticado pelo teste do pezinho. O tratamento consiste na reposição do hormônio tireoidiano, corrigindo os sintomas e evitando as complicações da doença.
Dicas para o uso correto do hormônio
Tomar preferencialmente pela manhã ao acordar, em jejum e esperando de 30minutos a 1hora para alimentar-se.
Não tomar no mesmo horário nenhum outro medicamento ou suplementos como antiácidos, ferro e cálcio, pois eles interferem com a absorção do hormônio.
Informe ao seu médico todas as medicações em uso para ajuste do horário de administração evitando essas interferências.

O excesso de hormônios tireoidianos manifesta-se através de vários sinais e sintomas como aumento da tireoide, sintomas oculares, nervosismo, irritabilidade, tremores, insônia, sudorese excessiva, batimento cardíaco acelerado, perda de peso, cansaço.
A causa mais comum é a Doença de Graves que cursa com bócio difuso (aumento volume da tireóide) e alterações oculares. É de origem auto-imune estando relacionada a produção de anticorpos estimuladores da tireóide, fazendo com que a glândula produza hormônio tireoidiano em excesso. É mais frequente em mulheres jovens e pode ser familiar.
Outro tipo de hipertireoidismo é o causado por um ou mais nódulos que crescem e aumentam a sua atividade passando a produzir muito hormônio, essa condição é denominada de Adenoma Tóxico, sendo mais freqüente após os 50 anos.
Em algumas situações a produção excessiva de hormônios tireoidianos pode ser temporária, relacionada a inflamação da tireóide (tireoidite). A tireoidite pode ser causada por vírus, podendo ocorrer durante ou após a infecção viral e já foi descrita em pacientes com COVID 19. Pode também ser causada por drogas como amiodarona, interferon, imunobiológicos entre outros.
O tratamento do hipertireoidismo depende do tipo, da idade e da condição geral de saúde do paciente. As modalidades terapêuticas incluem medicamentos via oral, dose terapêutica de radioiodo e em casos selecionados a cirurgia.

Nódulos Tireoidianos :
A tireóide é uma glândula que tem um formato de borboleta e está situada na região anterior do pescoço. O termo nódulo refere-se a um crescimento anormal das células tireoidianas, podendo ser único ou múltiplos, formando uma tumoração que pode ser percebida pelo paciente como um caroço no pescoço ou pelo médico durante o exame físico. Em sua maioria os nódulos são benignos, mas em torno de 5%-10% são malignos.
O Ultrassom de tireóide é o exame de escolha para a avaliação inicial do nódulo.
As características ultrassonográficas, junto com dados clínicos da história do paciente, vão permitir que o endocrinologista selecione os casos que precisam realizar a punção aspirativa por agulha fina.
A punção permite a classificação do nódulo em categorias de risco desde benigno até maligno. Em alguns casos a punção resulta em categoria indeterminada, em que apenas pelo resultado da punção não é possível definir a natureza do nódulo.
O endocrinologista vai avaliar cada categoria de risco, determinando qual paciente deve ser apenas acompanhado com ultrassonografias periódicas, qual deve ser encaminhado para cirurgia e, nos casos de punção indeterminada, avaliar a possibilidade de realizar teste molecular para definir se a lesão é benigna ou maligna.
O nódulo pode também ser completamente cístico, não tendo área sólida e nesses casos são benignos, não necessitando punção. Às vezes o nódulo cístico, apesar de benigno, é muito volumoso e causa sintomas estéticos ou compressivos podendo ser encaminhado para terapia com alcoolização do cisto, sem necessidade de cirurgia.
Mais recentemente o arsenal terapêutico para nódulos benignos, mas que causam desconforto ao paciente, ganhou uma nova modalidade de tratamento não cirúrgico denominado ablação por radiofreqüência, com ótimos resultados.
Os nódulos tireoidianos em sua grande maioria não causam alterações nos hormônios da tireóide, porém em alguns casos podem produzir hormônio em excesso e ser causa de hipertireoidismo por adenoma tóxico. Se desejar mais informações sobre essa situação leia o nosso post sobre hipertireoidismo.